domingo, 3 de maio de 2015

Segurança do alimento e aspectos microbiológicos

         A segurança da fruta e da hortaliça minimamente processada é pressuposto básico para o sucesso de empreendimentos nesse ramo de negócio agroindustrial.
Desde a observância de regras básicas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) até  adoção de ferramentas de gestão de qualidade, como a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), as indústrias devem assegurar aos seus consumidores que seu produto é seguro e livre de contaminação química, física e microbiológica.
          Em matéria veiculada em maio de 2004, no jornal Folha de São Paulo intitulada “Verdura pronta para o consumo é reprovada”, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) apresentou dados referentes a uma pesquisa realizada em onze estabelecimentos comerciais de São Paulo e da região do
Grande ABC Paulista. Foram encontrados coliformes fecais acima dos limites determinados pelo Ministério da Saúde em nove de vinte e cinco amostras de hortaliças minimamente processadas das principais marcas. Os exames nas amostras (sete de agrião, nove de alface e nove de cenoura) foram realizados pelos laboratórios do Instituto Adolfo Lutz e constataram concentrações de coliformes que variaram de 200 a 750 unidades formadoras de colônia (UFC) por grama. O índice de desconformidade com o padrão, de 36%, foi considerado inaceitável pela entidade.
          Os processadores devem estar atentos ao fato de que estão produzindo alimentos cuja filosofia é: “Direto da embalagem para a mesa do consumidor”.
Portanto, devem se preocupar com a higiene e demais processos de sanitização.
Estudos demonstram que a carga microbiológica que as matérias-primas vegetais possuem no momento da colheita está acima de 100 UFC por grama de matéria fresca. Dentre os microorganismos mais comuns encontrados, citam-se: bactérias, fungos e leveduras. Dentre as bactérias patogênicas, citam-se as do gênero Salmonella e Clostridium. Em geral, 50% a 90% da população microbiana de frutas e hortaliças são bactérias do gênero Pseudomonas (IFPA, 2001).
Reduções significativas da população microbiana em frutas e hortaliças minimamente processadas podem ser obtidas com compostos sanitizantes. A eficiência desses compostos na sanitização depende de fatores que atuam isoladamente ou em conjunto, como pH, temperatura da água, tempo de contato, natureza da superfície dos produtos e carga microbiana inicial.
 


            





                O cloro é o agente sanitizante mais empregado. Estudos têm demonstrado que concentrações de cloro livre de 50 ppm a 200 ppm podem inativar células vegetativas de bactérias e fungos (SIMONS e SANGUANSRI, 1997). Todavia, as concentrações para cada produto devem ser estudadas detalhadamente. O controle da concentração do cloro é um ponto-chave no sucesso da sanitização.
Concentrações muito elevadas podem causar problemas como descoloração, perda de qualidade e aumento na corrosão de equipamentos. Outro ponto importante diz respeito à formação de trialometanos e cloraminas, que ocorrem pela combinação do cloro com a matéria orgânica (GARG et al., 1990; PARK e
LEE, 1995).
             Infelizmente, existem muitas agroindústrias no Brasil que estão relegando a segurança dos alimentos e a higiene, assuntos específicos de um capítulo deste livro, a planos inferiores, o que tem contribuído para que ainda exista um certo preconceito por parte do consumidor em comprar frutas e hortaliças minimamente processadas. Pelo fato de, até o momento, inexistir legislação que regulamente o setor, vê-se, com pesar, a cada dia, o surgimento de “empresas de fundo de quintal” que conseguem colocar seu produto no mercado consumidor.
            Essa realidade não é um “privilégio” brasileiro. Em uma grande região produtora de alho (em torno de 400 mil hectares) na China, constatou-se que o alho minimamente processado nas agroindústrias locais também padece do mesmo mal de algumas hortaliças minimamente processadas no Brasil: condições precárias de higiene. No caso chinês, foi possível observar galpões de processamento mínimo com portas e janelas abertas e sem telas e com fluxo irrestrito de pessoas à área de produção.
           Centros brasileiros de excelência em P&D têm desenvolvido estudos de processos de higienização de superfícies e testado distintos compostos sanitizantes. Pesquisam também protocolos para a quantificação de compostos potencialmente carcinogênicos, como os trialometanos e as cloraminas. Os conhecimentos obtidos estão sendo transferidos aos diversos atores do agronegócio brasileiro de processamento mínimo de frutas e hortaliças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário