O sucesso das frutas e hortaliças minimamente processadas deve-se em grande parte à agregação de valor aos produtos e ao fato de os produtos serem entregues nos pontos de venda prontos para o consumo. Além do controle da temperatura, já mencionado, outro importante fator para assegurar a qualidade desses produtos para o consumo é a embalagem. A atmosfera modificada pela embalagem que envolve os produtos e pela temperatura deve contribuir para a manutenção do frescor, para o aumento da vida de prateleira e, em última análise, para a elevação das vendas.
O emprego de embalagens com atmosfera modificada baseia-se no princípio da redução do metabolismo vegetal em ambientes com reduzidas tensões de oxigênio, dentro de certos limites. À medida que a tensão de oxigênio cai abaixo de 10%, a atividade respiratória tende a reduzir. Estudos têm demonstrado que a diminuição das concentrações de O2 juntamente com a elevação de CO2 são mais eficientes para reduzir o metabolismo do produto minimamente processado do que o efeito individual de cada um dos gases. Em alguns casos, em produtos com elevada tolerância a concentrações altas de CO2, a atmosfera modificada permite o controle de algumas espécies de fungos e
bactérias.
Na definição de embalagens com modificação de atmosfera, os seguintes aspectos devem ser levados em consideração: taxa respiratória do produto, temperatura de armazenamento, permeabilidade, superfície e espessura do filme e massa do produto a ser embalado. Uma vez que tanto a taxa de respiração quanto a permeabilidade do filme são sensíveis a variações de temperatura, e respondem a essas variações de forma diferente, espera-se que a embalagem sob atmosfera modificada mantenha determinada atmosfera somente dentro de uma dada faixa de temperatura (ZAGORY, 2000).
Quanto aos tipos de embalagem existentes, diferentes filmes de plástico estão comercialmente disponíveis. Polietileno, polipropileno, náilon, multicamadas e copolímeros e laminados de diferentes plásticos estão disponíveis no mercado nacional. De maneira geral, os filmes de plástico devem possuir resistência mecânica, resistência à perfuração e tensão e características que permitam a sua selagem térmica, facilidade de colocação de logomarcas impressas, dentre outros. Não existem filmes no mercado que atendam a todas essas exigências (ZAGORY, 2000).
A tecnologia de embalagem é uma das áreas do processamento mínimo de frutas e hortaliças que talvez tenha experimentado o maior avanço tecnológico nos últimos anos. Novos materiais e formatos de embalagens, novas misturas gasosas (o Argônio sendo testado em substituição ao Nitrogênio) e embalagens ativas e inteligentes estão sendo exaustivamente testadas e avaliadas em diferentes partes do mundo.
Provavelmente um dos assuntos que mais têm despertado interesse na área de embalagens é o uso de embalagens ativas e de embalagens inteligentes, que são conceitos distintos. Embalagens ativas referem-se à incorporação de certos aditivos em filmes ou contentores de plástico com o objetivo de manter a qualidade do produto e estender a vida de prateleira. Em 2001, o mercado mundial de embalagens ativas movimentou algo em torno de um bilhão de dólares; metade deste montante foi gast com absorvedores de umidade. Os principais sistemas empregados em embalagens ativas são os absorvedores de oxigênio, gás carbônico, etileno e umidade, além de absorvedores de aromas.
Por outro lado, embalagens inteligentes têm a capacidade de “perceber” o ambiente e prover informações sobre a função e as propriedades do alimento embalado, bem como de outros componentes não-alimentícios.
No Brasil há um grande desconhecimento de possibilidades quando o assunto é embalagem. Tal desconhecimento permeia todo o processo produtivo e vai desde o fornecedor da embalagem até o usuário final. Assim, não é raro observar agroindústrias que usam um mesmo tipo de filme de plástico para brócolis (uma inflorescência com alta atividade metabólica) e para cenoura (uma raiz com atividade metabólica bem inferior).
Verifica-se também que a atmosfera modificada ativamente é usada mais como modismo do que como necessidade. Misturas previamente desenvolvidas por laboratórios internacionais para cultivares americanas ou européias são sistematicamente indicadas para os materiais brasileiros, sendo muitas vezes consideradas “a salvação da lavoura” para as agroindústrias nacionais. Tal adaptação não surte o efeito desejado na maioria das vezes, redundando em desperdício de tempo e de dinheiro. É necessário desenvolver misturas próprias para as cultivares brasileiras de frutas e hortaliças, bem como avaliar criteriosamente a associação de filme de plástico com atmosfera ativa, a fim de maximizar a vida de prateleira e a qualidade da hortaliça minimamente processada.
Apesar de ser eficaz para diversos produtos, o emprego de atmosfera modificada ativamente nem sempre contribui para a extensão da vida de prateleira e a manutenção da qualidade de frutas e hortaliças minimamente processadas. Em estudos conduzidos na Embrapa Hortaliças verificou-se que o emprego de atmosfera modificada ativamente (5% de O2 + 5% de CO2 - balanço de N2; e 2% de O2 + 10% de CO2 - balanço de N2) em alface crespa minimamente processada, embalada em filmes de polipropileno e armazenada a 5ºC, não estendeu de maneira significativa a vida de prateleira do produto, quando comparado com o seu respectivo controle. Em alguns casos, o produto embalado sob atmosfera modificada ativa possuía odor e aparência inferiores aos da testemunha.
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