domingo, 21 de junho de 2015

Consequências dos estresses

    De acordo com Brecht (1995), “a fisiologia de hortaliças minimamente processadas é essencialmente a fisiologia de tecidos submetidos a estresses”. O processamento produz efeitos físicos imediatos e subseqüentes no tecido processado.
    À medida que a água evapora e o tecido inicia a resposta fisiológica, ocorrem outras alterações na difusão de gases e o aparecimento de tecidos superficiais. Os estresses induzem sinais que elicitam respostas fisiológicas e bioquímicas tanto em tecidos adjacentes quanto em tecidos distantes (KE e SALTVEIT, 1989; SALTVEIT, 1997). Muitas dessas respostas são deletérias para a qualidade dos produtos minimamente processados. E muitas dessas alterações ocorrem de maneira muito rápida após o estresse, enquanto outras podem demorar alguns dias para serem completadas.
     As primeiras respostas fisiológicas ao estresse são aumentos transientes na evolução de etileno e elevação na atividade respiratória, que podem estar interligados com a indução do metabolismo de compostos fenólicos e com o processo de cicatrização do tecido (Figura 1).
     O etileno pode estimular outros processos fisiológicos, resultando na aceleração da deterioração da membrana, perda de vitamina C e de clorofila, abscisão e mudanças indesejáveis de sabor numa vasta gama de produtos hortícolas (KADER, 1985; SALTVEIT, 1999).


        Estresses mecânicos podem também comprometer o aroma, o sabor e a produção de compostos voláteis (MORETTI et al ., 2002). O estresse torna os tecidos vegetais mais suscetíveis ao ataque de microorganismos patogênicos e, possivelmente, mais propícios à sobrevivência e ao crescimento de microorganismos que potencialmente podem fazer mal à saúde (WELLS e BUTTERFIELD, 1997, 1999). Para desenvolver tratamentos e práticas de manuseio para produtos minimamente processados que minimizem as conseqüências negativas dos estresses,  é necessário o entendimento dos processos biológicos básicos relacionados com as respostas das plantas. Desta forma, enfoques mais efetivos que são mais amplamente aplicáveis para diferentes produtos minimamente processados podem ser mais facilmente desenvolvidos.
      Vários fatores podem afetar a intensidade da resposta ao estresse em frutas e hortaliças minimamente processadas. Dentre os principais estão: a espécie, a variedade, o estádio de maturidade fisiológica, a extensão do dano mecânico, as concentrações de O2 e CO2, a pressão de vapor de água e vários inibidores. Entretanto, o fator mais significativo que afeta a resposta ao estresse, assim como em outras situações em pós-colheita, é, sem dúvida, a temperatura.
     Por outro lado, diferentes produtos e/ou tecidos de um mesmo produto podem responder distintamente a diferentes estresses mecânicos. Por exemplo, a extremidade do talo de salsão tem uma taxa metabólica bem menor do que as células associadas com o floema no tecido vascular (SALTVEIT e MANGRICH, 1996). Algumas horas após o estresse, tecidos na região estilar de tomates verdes-maduros produzem etileno em taxas que são maiores do que o dobro da produção do mesmo fitormônio de células excisadas da região equatorial ou da extremidade apical do fruto (BRECHT, 1995). Quando incubados a 20ºC, a produção máxima de etileno eventualmente atingida pela porção distal, equatorial e proximal de um fruto de tomate foi similar, mas a produção de etileno de tecidos da região distal aumentou dois dias antes da produção de tecidos da região equatorial, e tecidos da região proximal tiveram aumento na evolução deste fitormônio dois dias mais tarde do que da região equatorial. A inclusão de pedaços diferentes de frutos numa mesma embalagem pode, portanto, dar origem a produto de qualidade desuniforme.
      Até o preparo de produtos minimamente processados, várias porções do tecido são cortadas, descascadas e dobradas. A proporção de dano ao tecido e a severidade do estresse variam muito entre os diferentes produtos e as distintas formas de preparo. O corte do produto remove a proteção natural da epiderme e destrói a compartimentalização que separa enzimas de seus respectivos substratos nas células diretamente afetadas.              Enquanto o número de células é relativamente pequeno, o tecido vegetal danificado rapidamente produz um sinal de estresse que se imagina ser responsável pela indução de várias respostas fisiológicas através dos tecidos, incluindo aumento na respiração e na produção de etileno, indução da síntese de compostos fenólicos e início do processo de cura (Figura 1).
       São evidências de propagação do sinal de estresse: a progressão temporal e espacial da indução do metabolismo fenólico e a síntese da enzima fenilalanina amônia liase (FAL) distante do local de estresse (KE e SALTVEIT, 1989). A resposta do tecido vegetal ao estresse normalmente aumenta à medida que a severidade do estresse se eleva. Entretanto, o nível de resposta parece ser rapidamente saturado por danos adicionais (KE e SALTVEIT, 1989). Uma discussão acerca de hipóteses associadas a sinais de estresse pode ser encontrada em Saltveit (1997).


terça-feira, 16 de junho de 2015

Alterações Metabólicas

   Frutas e hortaliças minimamente processadas diferem dos correspondentes materiais intactos em termos fisiológicos e nos requerimentos de manuseio. Produtos minimamente processados são essencialmente partes de vegetais cortados e mantidos frescos e com qualidade para consumo por períodos prolongados de tempo.
   Como resultado direto do estresse mecânico decorrente do processamento, frutas e hortaliças minimamente processadas se deterioram mais rapidamente do que o produto intacto. O processamento provoca alterações físicas e fisiológicas que afetam a viabilidade e a qualidade do produto. São sintomas visuais de deterioração: amolecimento por causa de perda de água, mudanças na coloração (especialmente aumento do escurecimento oxidativo nas superfícies cortadas) e contaminação microbiana.
   A perda de nutrientes também pode ser acelerada quando tecidos vegetais são submetidos a estresses . Entretanto, comparando-se com as mudanças fisiológicas e microbiológicas que ocorrem com o tempo, pouca informação está disponível no que diz respeito à retenção de vitaminas, minerais, antioxidantes e outros compostos funcionais durante o manuseio e o armazenamento de produtos minimamente processados.

 



    O conhecimento existente sobre a fisiologia e os requerimentos de manuseio pós-colheita indicam que frutas e hortaliças minimamente processadas se comportam diferentemente e, portanto, devem ser manuseadas de maneira distinta dos produtos intactos. Isso significa que o conhecimento acumulado durante décadas sobre a fisiologia e o manuseio comercial de frutas e hortaliças deve ser reexaminado e novos estudos devem ser desenvolvidos para cada produto minimamente processado. O aumento da perecibilidade em comparação com o produto intacto também requer que questões relacionadas com a manutenção dos compostos de importância nutricional e outros aspectos de fisiologia póscolheita sejam enfocados em novos estudos.


 


      O manuseio de frutas e hortaliças minimamente processadas tem sido mais estudado basicamente nas últimas duas décadas. Os primeiros trabalhos demonstraram a importância do controle de temperatura, da minimização da carga microbiana, do uso de facas afiadas, da aplicação de compostos antioxidantes, da remoção de umidade superficialmente aderida e da modificação da atmosfera da embalagem e sua relação com o aumento da vida de prateleira de vários produtos. Focaram as saladas minimamente processadas, com ênfase inicial em embalagem sob atmosfera modificada (“modified atmosphere packaging” – MAP), visando à redução da atividade respiratória e de doenças.
   Diferentes trabalhos têm buscado o desenvolvimento de tecnologia para frutas minimamente processadas com foco comercial. No caso específico de frutas, entre os principais desafios metabólicos a serem superados com o desenvolvimento de tecnologia de processamento mínimo estão: a variabilidade de tecidos existentes num mesmo fruto e as mudanças de textura verificadas em tecidos durante o amadurecimento.
    Este capítulo cobrirá as respostas metabólicas de frutas e hortaliças minimamente processadas, bem como os tratamentos usados para manter a qualidade desses produtos pela alteração das respostas metabólicas dos tecidos aos estresses. O entendimento da fisiologia de frutas e hortaliças minimamente processadas é essencial para a manutenção da integridade e do valor nutricional desses produtos e para o desenvolvimento de procedimentos mais efetivos e inovativos, com vistas à melhoria da qualidade.